Depois de três anos, o menino haitiano que havia sido abandonado por traficantes de pessoas em uma estação de metrô de São Paulo pôde voltar para a sua mãe.
O Fantástico acompanhou o reencontro, que ocorreu na Guiana Francesa, onde ela mora.
O garoto tinha 11 anos quando chegou ao Brasil, em dezembro de 2009, e foi deixado sozinho na estação de metrô Corinthians Itaquera, na zona leste de São Paulo. Passou os últimos três anos em um abrigo, e hoje tem quase 14 anos.
Ele diz que não se lembra de nada do dia em que chegou ao Brasil. “Eu acho que ele teve um bloqueio”, diz o coordenador do abrigo, André Penalva
.“Ele amadureceu da pior forma possível. Longe da família, longe das raízes dele e longe das pessoas que ele tinha contato. Então, esse desenraizamento foi prejudicial porque ele acabou ficando mais fechado”, afirma Paulo Fadigas, juiz da Vara da Infância e Juventude.
Já faz nove anos que o garoto não vê a mãe. Em 2003, quando ficou viúva no Haiti, Dieula Goin deixou os dois filhos com o avô e migrou ilegalmente para a Guiana Francesa. Casou de novo, teve mais quatro filhos e, quando melhorou de vida, contratou "coiotes" para buscar os dois filhos que ficaram no Haiti.
Mas a quadrilha só buscou um deles e ficou rodando com o menino pela América do Sul, exigindo mais dinheiro para entregá-lo. Como a família se negou a pagar, os coiotes abandonaram o garoto na estação.
Com a história esclarecida, a Polícia Federal identificou a quadrilha. Cinco deles, com prisão preventiva decretada, estão sendo procurados pela Interpol: Jean Paul Myrthil, Guirlande Baptistin, Jean Pierre Sainvil, Witchine Cadet e Sandra Lorthe.
Protegido pela Justiça, o garoto ficou escondido no abrigo. O reencontro com a mãe exigiria esforço humanitário de Haiti, França e Brasil.
À França, caberia regularizar a situação da mãe, imigrante clandestina na Guiana Francesa. Ao Haiti, bastaria emitir um passaporte para que o garoto pudesse viajar. Depois disso, o Brasil teria de agilizar os procedimentos judiciais e administrativos para devolver o menino.
Pedido direto do embaixador
No começo de 2011, o então governador da Guiana Francesa, Daniel Ferrey, afirmou ao Fantástico que resolveria a situação em três dias. O juiz Paulo Fadigas ouviu a mesma promessa do político francês. “Lembro bem, era um celular, através de intérprete. Conversamos, tá tudo certo. Mas nesse ínterim, eu conversando com a cônsul, ela falou: não tá tudo certo. Inclusive, ele tá indo embora”, afirma.
O governo do Haiti fazia cada vez mais exigências para emitir o passaporte. “Chegou a hora em que me pediram a carteira de motorista. Falei: ‘não, aí não dá. Carteira de motorista pro menino?’”, conta.
A situação só mudou quando o novo presidente da França assumiu e facilitou a legalização dos imigrantes. Há três meses, Dieula conseguiu tirar o visto de trabalho. O passaporte haitiano do garoto também saiu. Mas foi preciso um pedido direto do embaixador do Brasil ao presidente do Haiti.
A viagem, então, pôde ser preparada. Na mala, ele levou brinquedos de menino, roupas de adolescente e uma camisa do Corinthians, autografada pelo jogador Ronaldo. Os amigos do abrigo onde ele morou por três anos foram se despedir, no Aeroporto de Guarulhos.
Pedido direto do embaixador
No começo de 2011, o então governador da Guiana Francesa, Daniel Ferrey, afirmou ao Fantástico que resolveria a situação em três dias. O juiz Paulo Fadigas ouviu a mesma promessa do político francês. “Lembro bem, era um celular, através de intérprete. Conversamos, tá tudo certo. Mas nesse ínterim, eu conversando com a cônsul, ela falou: não tá tudo certo. Inclusive, ele tá indo embora”, afirma.
O governo do Haiti fazia cada vez mais exigências para emitir o passaporte. “Chegou a hora em que me pediram a carteira de motorista. Falei: ‘não, aí não dá. Carteira de motorista pro menino?’”, conta.
A situação só mudou quando o novo presidente da França assumiu e facilitou a legalização dos imigrantes. Há três meses, Dieula conseguiu tirar o visto de trabalho. O passaporte haitiano do garoto também saiu. Mas foi preciso um pedido direto do embaixador do Brasil ao presidente do Haiti.
A viagem, então, pôde ser preparada. Na mala, ele levou brinquedos de menino, roupas de adolescente e uma camisa do Corinthians, autografada pelo jogador Ronaldo. Os amigos do abrigo onde ele morou por três anos foram se despedir, no Aeroporto de Guarulhos.
“Se der, você fala com a gente pelo computador. Não é para você esquecer da gente, não”, pede um amigo. “Ele fez todo mundo muito feliz. Quero que ele seja feliz com a família dele”, deseja outro amigo.
O último recado foi escrito pelo haitiano em um bilhete no portão de embarque. “Eu vou sentir muita saudade, obrigado por tudo”.
AbraçoO juiz e o coordenador do abrigo o acompanharam. Foram três horas e meia de viagem até Belém, no Pará, e mais uma hora e meia até a Guiana Francesa.
Dieula esperava no aeroporto de Caiena. Ela e o filho se abraçaram. “Estou feliz demais com meu filho na Guiana”, diz.
Ela não fala português, e o garoto não consegue se lembrar nem do francês nem do creole, o dialeto haitiano que falava quando criança.
O juiz entregou um termo de entrega que garante a guarda do garoto pela mãe. Dieula assinou e agradeceeu.
Depois de deixar o aeroporto, o menino foi para casa na periferia de Caiena e foi recebido por François, o padrasto. “Eu tinha nove filhos, agora tenho dez”, disse.
A mãe o levou pela mão para conhecer o puxadinho erguido por causa dele. Ele conheceu os irmãos que nunca havia visto. Juntos, foram jogar futebol em um campinho de chão batido.
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