“Pela coloração intensa dele, é bem provável que tenha uma toxina como mecanismo de proteção”, diz o biólogo Luiz Fernando Ribeiro, da UFPR. “São toxinas parecidas com a tetrodotoxina, e que pode ter uma aplicação muito útil no tratamento de doenças neurológicas, como a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer.”
A rodovia corta a floresta. A trilha começa na beira da estrada. Foi debaixo de mau tempo que a expedição chegou ao Paraná para conhecer os habitantes do topo da floresta. A equipe acompanha um grupo da Universidade do Paraná que está indo em direção ao local onde eles estão descobrindo novas espécies de sapinhos da montanha.
A subida escorrega e as condições de tempo pioraram muito. Está cada vez um lugar mais difícil. Ficou praticamente impossível subir a montanha. Por isso, os professores e pesquisadores fizeram a proposta de reduzir a equipe e usar o equipamento mais portátil.
Para chegar até os sapinhos, é preciso passar das nuvens, literalmente. É como procurar agulha no palheiro. Eles se escondem em folhinhas.
“Pela coloração intensa dele, é bem provável que tenha uma toxina como mecanismo de proteção”, diz o biólogo Luiz Fernando Ribeiro, da UFPR. “São toxinas parecidas com a tetrodotoxina, e que pode ter uma aplicação muito útil no tratamento de doenças neurológicas, como a doença de Parkinson e a doença de Alzheimer.”
“Vocês não vão acreditar, mas eu achei um. Pus na mão, me distraí e ele pulou em cima da minha bota. Está paradinho aqui”, mostra o biólogo Marcos Bornschein, da UFPR.
“É um sapinho de montanha mesmo. Um sapinho escalador, um sapinho das nuvens”, analisa Luiz.
“Eles criam na água que acumula nas folhas da bromélia. Foi a água que eles tiveram que encontrar à medida que evoluíram nessas montanhas”, explica Marcos.
Sete horas depois da partida, em busca do sapo colorido do alto da montanha, os voltam. “Sucesso, sucesso total!”, comemora Marcos.
Um sapinho capturado vai para o laboratório da universidade. Ele é do tamanho de uma moeda de R$ 0,10. Imaginar que tem espécies novas não catalogadas é incrível.
“São as nossas caixas d’água da natureza, são as partes altas das montanhas e dos planaltos. Ela acumula água. Em um período de estiagem, esta camada orgânica fica vagarosamente liberando a água, garantindo a perpetuidade das nascentes”, comenta o engenheiro florestal Carlos Roderjan, da UFPR. “São ambientes que devem ser mantidos preservados.”
O professor Roderjan é o orientador do engenheiro florestal Christopher Blum. “Nesse trabalho recente de pesquisa, eu escalei 120 árvores”, conta Christopher. “E sempre havia alguma surpresa. Inclusive, encontramos duas espécies de bromélias que podem ser duas espécies novas. Estão sendo estudadas agora para confirmar isso. Elas estão dispersas de uma forma esparsa, principalmente na copa das árvores, que é onde elas ficam protegidas, desde que não se corte a árvore.”
“Christopher, muita gente acha que essas plantas são parasitas que podem até matar a árvore. Isso é verdade?”, pergunta o repórter.
“Não. Isso é uma confusão bastante comum”, diz Christopher. “Elas não penetram na casca da árvore, não sugam a seiva da árvore. Em raras situações de muitos vendavais ou muita chuva, alguns galhos, principalmente com bromélias de grande porte, podem quebrar. Mas isso é um processo ecológico que não deve ser visto de forma errada, porque no momento em que cai uma árvore, ou um galho, está abrindo uma clareira controlada, onde podem se desenvolver novas formas de vida, novas plantas, novas árvores. Está dentro de um equilíbrio.”
“Estima-se que na Mata Atlântica de Serra do Mar possam existir cerca de 2 mil espécies de epífitas diferentes”, continua Christopher. “E em apenas uma árvore podem chegar a 80, 90 espécies.”
Epífitas são orquídeas, bromélias, samambaias. “Elas necessitam de muita luz. Por isso, elas preferem crescer em cima da árvore”, diz o engenheiro florestal. “Formam verdadeiros jardins suspensos. É duro chegar até o topo, mas quando você está lá em cima pode perder muitas horas descobrindo as pequenas orquídeas e as bromélias enormes. É outro mundo, realmente.”
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