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sexta-feira, 18 de maio de 2012

20 ANOS DEPOIS, COLLOR FORTE NA POLITICA.

Ex-presidente sempre teve postura ambígua: nasceu na direita, mas sempre flertou com a esquerda.

Em um café da manhã realizado na última quinta-feira, em Maceió, o PTB do senador Fernando Collor confirmou o apoio à candidatura do ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) à prefeitura da cidade. Se tudo correr conforme o esperado, Collor e Lessa dividirão o palanque com o PT, PC do B e PMDB na eleição de outubro.
Vinte anos atrás, quando a revista “Veja” estampou na capa o depoimento bomba de Pedro Collor, irmão do ex-presidente, essa imagem era inimaginável. O PDT, então liderado por Leonel Brizola, se manteve fiel a Fernando Collor até o momento em que a derrota era inevitável mas PT, PC do B e PMDB – aliados ao PSDB – foram os principais algozes de Collor no processo iniciado com as revelações de Pedro, no dia 27 de maio de 1992, e terminado com o impeachment do então presidente da República, em dezembro daquele ano.
Lessa, que hoje recebe apoio incondicional do senador, esteve na vanguarda da oposição a Collor em nível estadual. A virulência das agressões extrapolou a disputa política e chegou ao ponto de, por meio de prepostos, ambos se acusarem de envolvimento em crimes comuns.
“Eu e Lessa eleitos graças ao impeachment de Collor”, recordou a vereadora Heloisa Helena (PSOL), vice de Lessa na eleição municipal de 1996.
Em entrevista por telefone ao iG, o ex-governador comentou com naturalidade a aliança. “Convidei todos os partidos que estiveram comigo no segundo turno da campanha para governador (em 2010, quando ele e Collor foram candidatos na eleição vencida pelo tucano Teotônio Vilela Filho)”, disse Lessa.
No almoço de quinta-feira passada, o PTB foi representado pelo dirigente estadual Fernando James Collor, 32 anos, filho do senador. Segundo ele, as relações entre os dois ex-rivais vão de vento em popa. “Meu pai e Ronaldo não se conheciam de verdade. Isso só aconteceu no segundo turno da campanha de 2010 (quando Collor apoiou Lessa). Ele costuma dizer que o que meu pai fez por ele naquele segundo turno não fez nem por si próprio no primeiro”, disse James.
De acordo com o filho do senador, a aproximação de Collor com seus antigos algozes é fruto do amadurecimento político. “Somos seres humanos em evolução. Nossos problemas mudam. Tudo muda”, disse.
James, que tinha apenas 12 anos na época do impeachment, verbaliza uma interpretação que é compartilhada por muitos hoje em Alagoas. “Muitas pessoas falam que fizeram de uma gota d’água um tsunami”, afirmou. “Não devemos nem mais falar disso. Devemos olhar para o futuro”.
Para o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), adversário de Collor nas eleições de 2010, o atual cenário político do Estado não chega a surpreender. “Não me surpreende nem pelo PT nem pelo Collor. A política é muito dinâmica e talvez o que o PT defendia e criticava antes seja o que hoje Collor defende e critica, ou vice-versa”, disse o governador. “É um sinal de que o impeachment e tudo o que cercou essa história ficou lá atrás”, completou.
De acordo com políticos e amigos que acompanharam o surgimento político de Collor, o ex-presidente sempre teve uma postura ambígua, pois embora tenha nascido na direita flertou permanentemente com a esquerda.
Collor foi nomeado prefeito de Maceió em 1979 pela extinta Arena e eleito deputado em 1982 pelo PDS. Em 1984 votou a favor das “Diretas Já” e, depois, apoiou Paulo Maluf (PDS) contra Tancredo Neves (PMDB) no Colégio Eleitoral.
Em 1986, quando se candidatou ao governo de Alagoas, trocou o PDS pelo PMDB e adotou um discurso radical de esquerda no qual afrontava a elite dos usineiros de açúcar e pregava a moralização do Estado. “Ele tinha um discurso mais à esquerda do que os partidos de esquerda. Falava claramente reforma agrária e até em confisco de terras dos usineiros”, lembrou o presidente do PSOL de Alagoas, Mario Agra, que estudou com Collor na faculdade e na época estava no PC do B. “Era um discurso tão empolgante que ele conseguiu rachar o PC do B alagoano, levando consigo um pedaço do partido”, completou.
Segundo pessoas que acompanharam de perto a gênese de Collor, a migração partidária e ideológica foi puro cálculo político. Em 1986, o campo da direita estava tomado pelo ex-governador Guilherme Palmeira e restava ao jovem deputado disputar o espaço no PMDB que à época abrigava correntes de extrema esquerda sobreviventes da luta contra a ditadura.

Fonte: Último Segundo/Ricardo Galhardo

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